Cientistas Descobrem Milhares de Novos Micróbios à Espreita na Zona Mais Profunda do Oceano

A zona hadal do oceano, o reino abaixo de 6.000 metros (aproximadamente 20.000 pés), é um dos ambientes menos explorados da Terra. Apesar de sua inacessibilidade e condições extremas, uma equipe de cientistas descobriu recentemente que essa região enigmática está repleta de vida microbiana.

Usando técnicas avançadas de sequenciamento genético, os pesquisadores identificaram mais de 7.500 espécies de microrganismos procariotos, com impressionantes 89,4% sendo completamente novos para a ciência. Essa descoberta expande significativamente nossa compreensão da biodiversidade marinha e lança luz sobre as adaptações únicas necessárias para a vida nas profundezas do oceano.

Imagem representando a descoberta de micróbios no oceano profundo
Representação visual da descoberta de novos microrganismos nas profundezas oceânicas.

A Zona Hadal: Um Ambiente Extremo

A zona hadal, que recebe o nome de Hades, o deus grego do submundo, é caracterizada por escuridão perpétua, temperaturas próximas ao congelamento e pressão esmagadora. A pressão na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo do oceano, pode atingir mais de 1.000 atmosferas – o equivalente a ter o peso de 50 jatos jumbo sobre você. Sobreviver nessas condições requer adaptações biológicas extraordinárias.

Tradicionalmente, acreditava-se que a vida na zona hadal dependia do óxido de trimetilamina (TMAO), uma molécula que ajuda a estabilizar proteínas sob alta pressão. No entanto, a pesquisa recente, parte do Projeto de Investigação Ambiental e Ecológica da Fossa das Marianas (MEER), revelou que os peixes de águas profundas desenvolveram mecanismos alternativos. Eles acumulam ácidos graxos poli-insaturados, em vez de TMAO, para garantir a fluidez de suas membranas celulares e a função proteica adequada. Esta descoberta desafia nossa compreensão anterior das estratégias de adaptação em ambientes de alta pressão.

O Papel dos Anfípodes

A pesquisa também destacou o papel crucial dos anfípodes, particularmente a espécie *Hirondellea gigas*, na cadeia alimentar hadal. Esses pequenos crustáceos são abundantes na zona hadal e servem como uma importante fonte de alimento para outros organismos. A sua presença sublinha a interconexão da teia alimentar, mesmo nas profundezas mais extremas.

Metodologia da Pesquisa e Amostragem

A equipe de pesquisa, liderada por cientistas da Universidade Jiao Tong de Xangai, do Instituto de Ciência e Tecnologia de Águas Profundas da Academia Chinesa de Ciências e do BGI Group, conduziu explorações extensivas em várias trincheiras hadais. Isso incluiu a Fossa das Marianas, a Fossa de Yap e a Bacia das Filipinas. O submersível Fendouzhe foi utilizado para coletar 1.700 amostras de sedimentos, 622 anfípodes e 11 espécies de peixes de águas profundas.

Diagrama da pesquisa
Diagrama ilustrativo da metodologia de pesquisa utilizada para explorar a zona hadal.

Análise Genômica e Descobertas

As amostras coletadas foram submetidas a análises genômicas abrangentes, revelando a vasta diversidade microbiana. Os resultados mostraram a existência de 7.564 espécies de microrganismos procariontes. Surpreendentemente, a grande maioria dessas espécies (89,4%) era desconhecida da ciência. Isso indica que a zona hadal abriga um reservatório vasto e inexplorado de diversidade genética, com potencial para descobertas biotecnológicas significativas.

Implicações e Pesquisas Futuras

A descoberta desses novos microrganismos tem implicações de longo alcance para a biologia marinha e a astrobiologia. Esses organismos extremófilos, adaptados a condições extremas, podem fornecer *insights* sobre a origem da vida na Terra e a possibilidade de vida em outros planetas, particularmente em ambientes com condições semelhantes, como as luas oceânicas de Júpiter e Saturno.

Além disso, a criação da primeira base de dados biológica de águas profundas, resultante desta pesquisa, estará disponível para a comunidade científica internacional. Este recurso inestimável promoverá a colaboração global e acelerará futuras pesquisas sobre a ecologia, evolução e potencial biotecnológico da vida hadal. A zona hadal deixa de ser vista como um deserto biológico e se torna um *hotspot* de biodiversidade, merecendo mais estudos e, crucialmente, esforços de conservação.

A Biologia Marinha, portanto, se expande com estas descobertas, com os *micro-organismos* (como o *fitoplâncton*, incluindo as *diatomáceas* e *cianofíceas*) tendo um papel chave. Os *fitobentos* (*macroalgas*, *ervas marinhas* e *microfitobentos*) também são organismos importantes. Os *protozoários* e *animais marinhos*, assim como o *zooplâncton* e os *invertebrados marinhos* (*bentônicos* e *nectônicos*), peixes e *mamíferos marinhos* se beneficiam e dependem desta intrincada teia de relações para a sua sobrevivência.